Maior parte das cidades brasileiras não conta com bombeiros
Enquanto o Brasil ainda se recupera da tragédia na boate Kiss, onde um incêndio matou 241 pessoas, o Fantástico investiga: como funcionam os Corpos de Bombeiros no país ?
Veículos em péssimas condições com painéis destruídos, sem rádios de comunicação e sem cintos de segurança. De cada cem cidades brasileiras, só 14 contam com bombeiros! Em muitos lugares, quando acontece um incêndio, a população tem de se virar!
No Pará faltam bombeiros em 122 cidades.
Somente 14% dos municípios paraenses possuem ao menos uma unidade do Corpo de Bombeiros. Segundo estudo encomendado pelo governo federal e coordenado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), somente 21 dos 144 municípios paraenses possuem esses postos. O índice revela uma preocupante constatação: a maioria dos municípios do Estado convivem com o risco iminente de tragédias, como a ocorrida há cerca de 20 dias na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em que mais de 230 pessoas foram mortas.
"São cidades sem a presença de bombeiros, o que torna praticamente impossível a realização de vistorias e avaliação de segurança em redes comerciais, além da total falta de controle de incêndios e demais acidentes", explica o coordenador do estudo "Brasil sem chamas" e pesquisador do IPT, José Carlos Tomina. Segundo ele, esse cenário se deve, principalmente, a falta de interesse das prefeituras em montar essas unidades.
O comandante geral do Corpo de Bombeiros do Pará, João Hilberto Sousa de Figueredo, também alerta que o número de sedes do Corpo de Bombeiros é muito baixo no Estado e de que as prefeituras têm que se atentar a importância de fazer parcerias com o Estado no intuito de criar esses postos.
“No Brasil todo, a maioria do Corpo de Bombeiros está nos grandes municípios. E na região Norte é ainda pior, porqueos municípios são pequenos. Eles não dão prioridade a essa necessidade, principalmente, devido ao custo. O investimento é alto para poder ter um serviço de bombeiros, por exemplo, em média, uma viatura custa cerca de R$ 500 mil e, normalmente, um posto de bombeiro, tem, no mínimo, três viaturas. Acaba que só os municípios de maior porte têm essas unidades”, assinala, destacando que o tipo de parceria mais comum no Estado consente em o município ceder o terreno, podendo, inclusive, ficar responsável pela construção do quartel, e o Estado responsável pelos equipamentos e efetivo de pessoas.
Na avaliação do comandante, é muito precária a atual avaliação de segurança de incêndio dos estabelecimentos comerciais dos municípios paraenses sem sede do corpo de bombeiros. “A vistoria de incêndio só quem faz é o Corpo de Bombeiros, então acaba que o município que tem uma sede fica responsável também pelos municípios das proximidades. Então, a fiscalização se torna um serviço incipiente, porque não atende a sua totalidade”, diz o comandante José Hilberto.
“Por exemplo, o município de Tailândia abrange uma região que vai até Jacundá, Goianésia. O municípiode Bragança atende Augusto Corrêa, Tracuateua, Viseu. Então, as casas comerciais e os prédios residenciais que existem nesses outros municípios quem faz a fiscalização é o posto de bombeiros mais próximo, mas é óbvio, por conta do efetivo e da quantidade de trabalho, prioriza-se o município sede e deixa para um segundo momento esses outros municípios.
Tanto que, às vezes, tem município que é tão distante que o corpo de bombeiro deixa de atender. Essa é uma realidade”, admite.
De acordo com o estudo do IPT, o índice de municípios do Pará com Organizações de Bombeiro-Militar era ainda mais baixo nos últimos cinco anos: 10,4%. Ao longo desse período foram criados as unidades de Bragança, Breves , Itaituba, Redenção, Tailândia e Tucuruí. Além desses seis, o Estado conta com postos do Corpo de Bombeiros em Abaetetuba, Ananindeua, Altamira,Barcarena, Belém, Cametá,Capanema, Castanhal, Marabá, Matrituba, Paragominas,Parauapebas, Salinas, Santa Isabel do Pará e Santarém, além dos distritos de Icoaraci e Mosqueiro.
"A motivação é sempre da prefeitura, é sempre da autoridade local. É ela que se interessa em montar o posto e faz o convênio com o Corpo de Bombeiros, com o Estado. Nessa negociação cada um entra com uma parte dos recursos necessários, por isso que é sempre a autoridade local que tem que demonstrar interesse. Mas acontece que, no nosso País, não se trata a segurança contra incêndio da forma rigorosa como se deve. As autoridades não têm conhecimento da gravidade que é a área de segurança contra incêndio", diz Tomina. "Eles têm um monte de outras prioridades, como transporte, segurança pública, educação, saúde e desprezam que acontecem, em média, 200 mil incêndios por ano no Brasil, de média e alta proporções. São quase mil incêndios por dia. Eles pensam que é uma vez na vida e outra na morte", completa.
Conforme o pesquisador, cerca de 1,2 mil pessoas morrem em incêndios no Brasil por ano. O número considera apenas as vítimas que foram retiradas mortas pelos bombeiros e não inclui a quantidade de pessoas que morreram em hospitais.
Referências
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