13 de novembro de 2014

O USO DE FERRAMENTAS SIG NA CARTOGRAFIA HISTÓRICA DA CIDADE DE BELÉM - PARÁ


 
Leonardo Sousa dos Santos[1]
Orleno Marques da Silva Junior[2]

RESUMO
 
Atualmente a história tem se beneficiado das tecnologias de informação, sobretudo os Sistemas de Informação Geográfica em diversas de suas disciplinas, em especial na cartografia histórica. Exemplo do avanço no campo de ferramentas técnicas computacionais, ou sistemas de informações geográficas aplicadas ciência histórica são os trabalhos desenvolvidos para a recuperação e processamento das informações geográficas contidas nestes documentos históricos, como os mapas e/ou cartas antigas. A metodologia destas pesquisas consiste na reconstituição cartográfica, extração dos nomes geográficos e topônimos da cartografia histórica de Belém. A reconstrução de bases cartográficas históricas vem se constituindo como uma promissora estratégia para compreender o processo de a dinâmica de ocupação tanto espaciais (geográfico) como temporais (histórico). Os resultados são reconstituição de importantes documentos que podem ser utilizados de inúmeras maneiras em diversas áreas do conhecimento, além de preservação do patrimônio histórico cartográfico. O objetivo principal deste trabalho é apresentar uma proposta de cartografia digital reversa da cidade de Belém para gerar bases cartográficas digitais, em escalas e precisões compatíveis com aplicações temáticas. Como objetivos secundários a atingir, são estabelecidos metas: Preservar o patrimônio histórico cartográfico; criar um projeto com a prefeitura, sociedade civil organizada, para desenvolver um estudo reverso das divisões administrativas da cidade; estabelecer uma ligação entre informações temáticas comuns entre as bases cartográficas e informações disponíveis em fontes oficiais e não oficiais; apresentar as bases cartográficas em diversos formatos gráficos e disponibilizarem os resultados para público. Observa-se como resultado preliminar um ganho expressivo de informações cartográficas, permitindo uma melhor compreensão e interpretação das diversas informações representadas nos documentos históricos da planta da cidade de Belém. Desta forma as pesquisas sobre a Belém histórica pode ser intensificadas e estudos sobre os processos de ocupação, crescimento ordenado e regular na forma urbana e dos limites administrativos de Belém


Palavra chaves: Sistema de informação geográfica; Cartografia histórica; Cartografia reversa.

 
1. INTRODUÇÃO

A reconstrução de bases cartográficas históricas vem se constituindo como uma promissora estratégia para compreender o processo de transformação das cidades ao longo dos séculos. Neste contexto, a cartografia histórica (reversa) é um instrumento essencial para o estudo do espaço geográfico pretérito, mostrando a dinâmica de ocupação tanto espaciais (geográfico) como temporais (histórico) (MENEZES, 2014).

Atualmente a história tem se beneficiado das tecnologias de informação, sobretudo os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) em diversas de suas disciplinas, em especial na cartografia histórica (FERREIRA et al., 2011), pois o poder de processamento dos computadores permitiu a disseminação do uso de programas voltados à cartografia digital, que, segundo Câmara et at., (2001), são sistemas automatizados utilizados para armazenar, analisar e manipular dados geográficos que representam objetos e fenômenos em que o local onde o mesmo ocorre é uma característica inerente à informação e indispensável para compreendê-lo.

Exemplo do avanço no campo de ferramentas técnicas computacionais, ou sistemas de informações geográficas aplicadas ciência histórica são os trabalhos desenvolvidos para a recuperação e processamento das informações geográficas contidas nestes documentos históricos, como os mapas e/ou cartas antigas. A metodologia destas pesquisas consiste na reconstituição cartográfica, extração dos nomes geográficos, topônimos.

No Brasil, estudos relacionados à cartografia histórica têm sido desenvolvidos por pesquisadores como: Castro et al (2006), Menezes et al (2007), Umbelino e Antunes (2007), Santos, Menezes e Costa (2007). Outros artigos relacionados a esse tema podem ser encontrados nos anais do XXII e do XXIII Congresso Brasileiro de Cartografia e do II Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica (UMBELINO, 2009).

De acordo com Menezes (2014), a reconstrução de bases cartográficas históricas vem se constituindo como uma promissora estratégia para compreender o processo de a dinâmica de ocupação tanto espaciais (geográfico) como temporais (histórico). Os resultados são reconstituição de importantes documentos que podem ser utilizados de inúmeras maneiras em diversas áreas do conhecimento, além de preservação do patrimônio histórico cartográfico.

Assim, este trabalho tem os seguintes objetivos principais: apresentar uma proposta de cartografia digital reversa da cidade de Belém para gerar bases cartográficas digitais, em escalas e precisões compatíveis com aplicações temáticas. Como objetivos secundários a atingir, são estabelecidos metas: Preservar o patrimônio histórico cartográfico; desenvolver um estudo reverso das divisões administrativas da cidade, associado à sua cartografia; estabelecer uma ligação entre informações temáticas comuns entre as bases cartográficas e informações disponíveis em fontes oficiais e não oficiais; apresentar as bases cartográficas em diversos formatos gráficos e disponibilizarem os resultados para público.
 

2. Metodologia

Para o estudo, os métodos utilizados para análise podem ser caracterizados como analógicos e digitais. Dentre os métodos analógicos, destacam-se a análise visual, para a ambientação com os elementos representados nos dados cartográficos históricos, podendo-se obter informações do mesmo, a partir da observação de detalhes contidos, como: características gerais do documento, ambientação e familiarização com o documento; percepção de detalhes e informações contidas no documento, identificação de pontos notáveis para controle e extração das características básicas do documento.

No método digital tem-se às análises espaciais realizadas com base na digitalização matricial (rasterização/vetorização); validação com o documento original; georreferenciamento das bases históricas, definição de um sistema de coordenadas e projetivo; definição de pontos de controle (mapa histórico e mapas atuais) entre outros.

A partir daí, a metodologia se divide em três fases, como pode ser observada no fluxograma da figura 1.
 
 
Fase 1: A primeira fase procura atender aos objetivos desde a aquisição até o pré-processamento dos dados selecionados como: Aquisição de dados bibliográficos, cartográficos, geográficos e históricos, englobando material de nível nacional e internacional, através de contato com universidades, bibliotecas, internet, organizações governamentais e não-governamentais, dados tabulares, fotografias, informações cartográficas e quaisquer outras sobre o tema da pesquisa em andamento.

Fase 2: Escolha dos documentos a serem estudados onde dar-se-á  início ao processo de digitalização, georreferenciamento e vetorização dos mesmos, através do Sistema de Informação Geográfica Quantum Gis 2.4, versão “Chugiak”.

Fase 3: Confecção do produto final, especializar e analisar a reconstituição dos períodos de grandes modificações do limite administrativo e da paisagem na cidade de Belém, através das bases cartográficas históricas vetorizadas.

 
3. Resultados

As fases estabelecidas possibilitou a concretização de uma base cartográfica digital, vide Figura 2, contudo é necessário um levantamento minucioso de mapas históricos que abrangessem a região estudada, assim como a aquisição de fontes histórica que pudessem servir de arcabouço para a análise espaço-temporal, como nos aspectos culturais e sociais sobre a cidade em 1989.

Com os arquivos digitais foi possível calcular, por exemplo, a área do delta da planta da cidade de Belém. Em 1989 Belém possui 407,31 Km² (área cor rose escura). A planta de 1989 de Belém possui duas áreas bem distinta destacadas (cor róseo claro) de nominada de Terrenos Baixos, uma ao norte e outra a sudeste, com 58.79 Km² e 96,45 Km² respectivamente.

A malha viária da Planta da cidade de Belém 1989 possui 384,84 Km de extensão. A Estrada dos Mundurucus é o maior eixo viário com 6.737 km e Rua Carlos Gomes é o menor eixo viário com 241 metros. A soma dos eixos viários nomeados em 1989 é de 163,30 Km.

As áreas verdes e praças representadas na planta de 1989 somam 127,29 hectares e tendo a maior área verde tem o valor de 18,91 hectares.
 
Figura 2: Resultado com arquivo “raster” e o arquivo vetor (ponto, linha e polígonos) da Planta da Cidade de Belém 1899. Fonte: Elaborado pelo autor.
 
As áreas resultantes do processo de vetorização são importantes arquivos de consulta e referência e podem ser utilizados de inúmeras maneiras em diversas áreas do conhecimento, pelos estudiosos do assunto. Com o armazenamento dos dados da cartografia histórica de Belém em um banco georreferênciado, é possível, de acordo com Silva (et. al., 2010), sua utilização em diversas outras pesquisas; processamento das informações para gerar outros produtos, desde mapas até análises mais complexas; recuperação de documentos de inestimável valor para a comunidade acadêmica afim e sociedade como um todo, sendo um bem cultural.
Pode-se identificar o processo de surgimento dos novos bairros nas áreas de baixadas, que eram sujeitas a alagamento e ocupadas pela população de baixa renda, dos arruamentos que cresceram ao longo dos séculos e principalmente os processos de intervenções urbanas da cidade de Belém cartografados permitindo a conservação da memória dos traçados da cidade até os dias de hoje.
Segundo Fernandes (2010), o traçado urbanístico históricos permite o diagnóstico da modernização da cidade compatível com a introdução dos novos serviços de infraestrutura urbana, como as linhas de bondes elétricos, redes de abastecimento e de esgotos, etc.
Observa-se um ganho expressivo de informações, permitindo uma melhor compreensão e interpretação das diversas informações representadas nos documentos históricos da planta da cidade de Belém de 1989, vide Figura 3.
 

  Figura 3: Resultado final de vetorização da Planta da cidade de Belém de 1989. Fonte: Elaborado pelo autor.
Agora as pesquisas sobre as ruas de Belém e os significados histórico de suas ruas e denominações podem ser intensificadas através da Obra de Ernesto Cruz e dos historiadores paraense que acompanharam e registraram o processo de crescimentos da cidade. Pode-se também desenvolver estudo do processo de ocupação dos novos bairros, observando o processo de crescimento ordenado e regular e as transformações na forma urbana e dos limites administrativos.
Os mapas históricos são excelentes arquivos temporais, atuando como se fossem arquivos de época, pra um determinado espaço geográfico, fornecendo subsídios para o posicionamento correto do espaço no tempo, permitindo assim a recuperação de informações de época, estabelecendo a caracterização de estudos evolutivos sobre tendências de ocupação e uso do solo e da paisagem em geral. (MENEZES et al., 2005). 
Muitos são os desafios da completa execução do método aqui proposto e que este possui limitações, mas acredita-se que a metodologia pode ser utilizada, podendo ser aperfeiçoada de acordo com as informações existentes em cada carta, mapa e planta da cidade de Belém.
Foi possível mostrar o papel das ferramentas de geoprocessamento no campo da cartografia histórica que assumem cada vez mais destaque e importância. Igualmente necessário torna-se ter cuidados básicos ao manusear essas ferramentas, como nos processos de simbolização, extração, entre outros mostrados no corpo deste trabalho. Após o término do trabalho a cidade de Belém terá uma base cartográfica digital Histórica, sobre infraestrutura, unidades e divisões territoriais, equipamentos e mobiliários urbanos, além de elementos naturais de época.
No Anexo I, observa-se a Planta da cidade de Belém de 1989 digitalizada e vetorizada os terrenos de baixadas, as linhas de bondes elétricos, Estrada de ferro Belém-Bragança, ruas, travessa, estradas, edificações, praças, área verdes e outros.
 
Figura 3: Resultado final da Planta da cidade de Belém de 1989. Fonte: Elaborado pelo autor.
 
O segundo dia da Semana do Patrimônio Paraense 2014 iniciou na manhã do dia 05/11
 
Leonardo dos Santos apresentou "O usos da ferramenta SIG na cartografia histórica da cidade de Belém do Pará": http://casaraodememorias.blogspot.com.br/2014/11/spp-2014-imagens-do-segundo-dia-0511-da.html
 
 
 
 
Bibliográficas
Ernesto Horácio Cruz - Ruas de Belém, Significado Histórico de suas denominaçõeshistoriador paraense. Conselho Estadual de Cultura. Belém - Pará. 1970. 163 págs.
 U F P A. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Travessa da Estrela – a polêmica rua do Marco da Légua. 2014. Disponível em: < http://fauufpa.org/2014/10/15/travessa-da-estrela-a-polemica-rua-do-marco-da-legua/ > Acesso em: 15 out. 2014.
FERREIRA, M. C.; MARUJO, M. F.; Metodologia para Construção de Cartas-Imagem Históricas, em SIG, a partir de Imagens Digitais e Cartas Antigas: a Folha Topográfica de Jaboticabal, de 1927 (São Paulo, Brasil).  IV Simpósio Luso Brasileiro de Cartografia Histórica. Porto, 9 a 12 de Novembro de 2011 ISBN 978-972-8932-88-6.
FERNANDES, C.; Via dos Mercadores - Belém, Pará. 2011. Disponível em: Acesso em: 21 out. 2010.
MENEZES, P. M. L., LEPORE, V. M. G., FERREIRA, T. S., Cartografia Histórica como suporte para análise geográfica, IV Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas – IV CBCG: Curitiba, maio de 2005.
SILVA, K.; BIONDINO. A.; MARCIA, P.; O Uso de Ferramentas SIG na Cartografia Histórica. Disponível em: < http://www.cartografia.org.br/cbg/trabalhos/90/41/resumoexpandidoparcialfinal_1376346337.pdf>. Acesso em: 17 out. 2014.
UMBELINO, G.; RODRIGO, C.; ANTUNES, A.; Uso da Cartografia Histórica e do SIG para a Reconstituição dos Caminhos da Estrada Real. Revista da Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto – SBC. Nº 61/1. Abril 2009. Disponível em:. Acesso em: 20 out. 2014.




[1] Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA. leonardocbmpa@yahoo.com.br. Projeto de pesquisa em nível de mestrado apresentado ao processo seletivo do Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Pará.
[2] Engenheiro Ambiental. Doutorando do Programa de Planejamento Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ.

4 comentários:

  1. Leonardo, parabéns pelo excelente trabalho!
    A Planta da Cidade de Belém de 1989 ficou perfeita e é um verdadeiro presente para a cidade. Eu tenho ideia do imenso trabalho que você teve e do tempo que levou para produzir, mas valeu a pena.
    Caso você queira conhecer, eu também tenho um blog, chama-se Geografia e Cartografia Digital de Belém http://geocartografiadigital.blogspot.com.br/. Sucesso!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde caro Luiz Henrique! Obrigado mas como vc falou o trabalho valeu a pena estou trabalhando em outra carta antigas o trabalho mesmo está sendo no georeferenciamento das bases raster!

      Acompanho seu trabalho e conheço bem sua página e parabenizo vc pelo trabalho!

      Excluir
  2. Caro Leonardo. Espero que o seu trabalho seja aprovado pela banca do mestrado em Geografia pela UFPA, pois é de extrema relevância a sua linha de pesquisa. O seu trabalho resgata o estudo da formação da cidade através do georreferenciamento de "mapas" antigos, e da passagem de relíquias históricas e analógicas para arquivos digitais.

    Obrigado! Eu faço o que eu posso. Saiba que o meu blog foi inspirado no teu, assim como outros que falam a respeito de Belém.

    ResponderExcluir
  3. massa essa ferramenta, vou indicar para a turma de alunos do colegio imirim sp, bacana, recomendo

    ResponderExcluir

Representações Cartográficas

Globo - representação esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com finalidade ilustrativa.

Mapa - representação plana, em escala pequena, delimitada por acidentes naturais ou políticos-administrativos, destinada a fins temáticos e culturais.

Cartas - representação plana, em escala média ou grande, com desdobramento em folhas articuladas sistematicamente, com limites de folhas constituídos por linhas convencionais, destinada a avaliação de distância e posições detalhadas.

Planta - tipo particular de carta, com área muito limitada e escala grande, com número de detalhes consequentemente maior.

Mosaiso - conjunto de fotos de determinada área, montadas técnica e artisticamente, como se o todo formasse uma só fotografia. Classifica-se como controlado, obtido apartir de fotografia aéreas submetidas a processos em que a imagem resultante corresponde à imagem tonada na foto, não controlado, preparado com o ajuste de detalhes de fotografia adjacentes, sem controle de termo ou correção de fotografia, sem preocupação com a precisão, ou ainda semicontrolado, montado combinando-se as duas características descritas.

Fotocarta - Mosaico controlado, com tratamento cartográfico.

Ortofotocarta - fotografia resultante da transformação de uma foto original, que é um perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre um plano.

Ortofotomapa - conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região.

Fotoíndice - montagem por superposição das fotografias, geralmente em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da região. É o insumo necessário para controle de qualidade de aerolevantamentos utilizados na produção de cartas de método fotogramétrico.

Carta Imagem - imagem referênciada a partir de pontos identificáveis com coordenadas conhecidas, superposta por reticulado da projeção

Revista Geografia, Conhecimento Prático, n 23, p 54. ed. Escala